Ressurreição e outros temas fracturantes - Debate



Caro Ir. Elias Jose da Silva; boa noite e a Paz do nosso Senhor e mestre Jesus. Obrigado pelo tempo que dedicou para postar este artigo. Irei (como teólogo) fazer apenas algumas observações a ele.


1- O Apóstolo Paulo estava em processo de transição da Lei para a Graça; logo rompe com a "Shemá" de Deut. 6:4; o UM "D'us" é Adonai (o HaShem) não havendo outro "Nome". Contraditório: Para um judeu é uma blasfémia D'us ter um filho que encarna para salvar Israel.


2- No meu entendimento não há teologicamente essa dicotomia carne-espírito. D'us emanou a matéria da sua própria essência, Deus é matéria-carne também. Parece que D'us criou a matéria e afastou-se dela como algo impuro, sujo. Por isso penso que Jesus sempre foi homem, e sempre esteve no mundo; D'us não é onipresente?


3- O nome de Jesus é "A Verdade". Yeshua, Iesus, Jesus, são apenas convenções. Sim, as Escrituras sofreram "alterações" de diversas ordens.


4- Não existe "tradução" e sim transliteração; é impossível traduzir uma ideia metafísica. Todas as "traduções" da Bíblia são de péssima qualidade, a de Almeida é um desastre.


5- Entender as línguas originais é fundamental para se estudar as Escrituras. Moisés falava egípcio, Jesus aramaico galileu, os Evangelhos em grego koiné, Paulo em hebraico. Seria como guiar um carro sem volante.


6- Elias; "a inspiração recai nas palavras, não nas ideias"? Poderia explicar melhor. " A tradução de um nome do hebraico e grego para o português não afeta a mensagem?" O Ir. já estudou hermenêutica e exegética? Explique-me melhor estes pontos.


Penso que Jesus existiu sim, veio na carne sim, sofreu no madeiro sim, penso que Jesus era um Arcanjo (e até de anjo algumas vezes) o primeiro Anjo criado, agora o que eu penso é que Jesus veio justamente para informar a todos que só o Pai dele (o criador dele) é que tem que ser adorado, mas algumas pessoas colocam a necessidade de adoração a Jesus, mas se ele veio só para trazer a adoração para o PAI dele, o nome dele tem poder sim, porque D'us entregou a ele a autoridade sobre tudo menos ao próprio HaShem, a adoração tem que ser directa para D'us. Jesus veio para nos facilitar isto. Gente é só um pensamento nada de estudo de teologia, apenas o meu pensamento, não tenho estudos; deixo aqui gentilmente o meu pensamento humilde.


Babi Soares; vamos devagar. Vemos na Bíblia que o corpo de Jesus não era igual ao nosso (não era de carne, osso e sangue), por vários fenómenos como atravessar paredes e flutuar. Era "semelhante" não igual. Este ponto polémico já foi discutido por vários concílios nos primeiros séculos da Igreja sem solução. Jesus um "anjo"? Depois explico, mas "anjo" não existe. Se Jesus foi criado ou gerado por Deus é outra polémica. Se Ele era da mesma "substância" do Pai, é outro problema. E Deus-Jesus não "precisa" de adoração, Eles não precisam de nada, são Onipotentes.


Elias Jose da Silva; não me interprete mal. Apenas estranho pela sua formação vc colocar certos parâmetros que destoam da realidade teológica. Penso nunca ser perda de tempo discutir teologia. Ser ortodoxo é flertar com o fundamentalismo. Em teologia (como em qualquer ciência) não há verdade absoluta. Eu sou o que sou. Essa máxima: "A Bíblia explica a própria Bíblia" na prática não é bem assim. É necessário se recorrer a outras fontes. Peço que continue conosco, a história da Igreja é de querelas teológicas, parece que será sempre assim. Amém?


Paulo Sergio Villasanti porque deu uma resposta destas? Como é que explica teologicamente a ressurreição desta maneira? Há ou não uma explicação racional? Não passa duma asserção de fé? Não será uma pura metáfora?


Sabemos que não há "provas históricas, mas provas humanas", a primeira das quais, em perspectiva cronológica, descrita na primeira Carta aos Coríntios, em que Paulo apresenta a ressurreição de Jesus como o ato fundador do Cristianismo. Sublinho que, para os cristãos, este é um dado de fé fundamental.


A narrativa de Paulo, contudo, não apresenta provas históricas da ressurreição: quem é que viu Jesus a ressuscitar? Em que dia e hora? Em que forma? Apenas apresenta o fato em si, através de provas de testemunho de fé existencial.



Todas as narrativas da ressurreição são narrativas catequéticas, apresentam o dado da fé: pessoas que não acreditavam e que começaram a acreditar.



Na Carta aos Coríntios, por exemplo, não há sequer referência à modalidade da sepultura de Jesus. O túmulo vazio de que falam as narrativas evangélicas "é um sinal", refere o especialista em Sagrada Escritura.



Os Evangelhos Sinópticos descrevem a ida das mulheres ao túmulo, na manhã de Domingo, algo que considero "normal", dado que seria uma grande desonra que o corpo se corrompesse antes de ser perfumado. O que não era normal é que as mulheres andassem com ele desde a Galileia até Jerusalém; concluo, lembrando que os rabinos e os filósofos gregos da altura não se faziam acompanhar por mulheres.


O teólogo Andrés Torres Queiruga, um nome maior da teologia contemporânea, quando fala acerca da ressurreição, aponta para um “mistério-limite” que marca “ao mesmo tempo a glória e a dificuldade da fé” e constitui um desafio à renovação da teologia actual.


Não falei de ressurreição. Para muitos acontecimentos não há resposta racional.


As mulheres não foram perfumar o corpo de Jesus. Isso era feito no momento do enterro.


Mas existe uma resposta racional. Queiruga começa por notar que a ressurreição é um dos desafios maiores para a “renovação da teologia actual”, apontando em três direcções fundamentais: “a crítica exegética, a mudança cultural e o diálogo das religiões”. Que implicam “o fim do fundamentalismo bíblico, a superação da concepção ‘mítica’ da intervenção de Deus no mundo e que o exclusivismo religioso é inaceitável”.



»»» As mulheres depois de observarem o santo Shabbat (Sábado), buscaram começar a sua semana duma forma diferente. “Passando o Shabbat,” mais ou menos às 18:00hrs elas foram preparar os aromas para no domingo ungir o corpo de Jesus.

AROMAS – Cheiros agradáveis, perfumes.
Que tipo de aromas elas prepararam?
ALOÉS – Casca de madeira perfumada usada para perfumar roupas e camas.
PV 7.17 “ já perfumei minha cama com aloés...” É o símbolo do Amor.
Maria Madalena, Salomé e Maria mãe de Tiago foram a um sepulcro levar amor. 
Foram sepultar junto com o Corpo de Jesus o seu amor.


A ruptura com o fundamentalismo é especialmente urgente neste caso, onde as próprias narrações neotestamentárias, cheias de acenos, dissonâncias e até contradições, proclamam gritantemente o seu carácter simbólico, catequético e parenético. E contesto, com o teólogo Queiruga, a exaltação de Yoshke (Jesus) “desencarnada e ‘monofisita’, que pensa confessá-lo tanto mais divino quanto o afastar do humano”. A verdadeira cristologia, ao contrário, será a que compreende que a divindade de Jesus “se manifesta e realiza” na mais “profunda humanidade: tanto mais divino quanto mais radical e autenticamente humano”.
Os relatos bíblicos, insiste Queiruga, são “testemunhos de fé” que pretendem afirmar que, “apesar da sua morte real e terrível, Jesus Nazoreu não foi aniquilado; que, pelo contrário, de uma maneira nova e misteriosa, continua mais vivo do que antes e plenamente glorioso; que não se desentendeu dos seus, que, pelo contrário, continua presente e acompanhando-os a partir da sua transcendência divina...”
Como novo paradigma, Andrés Torres Queiruga propõe os conceitos de acção de D'us como criador que está “desde sempre a trabalhar” na criação do mundo; de revelação como expressão de presença de Deus que o revelador descobre e interpreta; e da jesulogia como “plena realização da antropologia”, na esteira da expressão de Karl Rahner.


À luz das narrativas bíblicas, a razão histórica aplicada à pessoa histórica de Jesus termina nas narrativas do túmulo vazio. Mas, segundo o grande filósofo Emanuel Kant, a razão pura levada ao seu limite não explica toda a realidade. Depois da razão pura vem a razão prática para explicar a verdadeira realidade que consiste também no sentimento, no amor, no coração, na consciência, na ética e moral e, definitivamente, em Deus. Segundo o “Princípezinho, o “Invisível” é a real dimensão do ser humano.


Realmente, não é fácil dissertarmos sobre a ressurreição porque se 
trata de acreditar que Jesus continua a viver numa vida diferente, 
totalmente outra. Ele é, simultaneamente, o mesmo Jesus de Nazaré 
e da Cruz mas em forma de Ressuscitado. O seu corpo não tem mais 
carne e sangue. Ele não fala nem caminha como falava e caminhava 
quando vivia entre os seus discípulos, embora algumas narrativas o 
apresentem a caminhar e a comer mesmo depois de ressuscitado. 
Lembremos as narrativas mais significativas. Comecemos pela 
narrativa de Lc 24, 13-35 sobre Jesus que caminha e dialoga com os 
discípulos de Emaús. Mas os discípulos só o reconheceram quando 
"ele se pôs à mesa, tomou o pão, pronunciou a benção e, depois de 
o partir, entregou-lho. Então, os seus olhos abriram-se e 
reconheceram-no; mas Ele desapareceu da sua presença". Como é que 
os discípulos não reconheceram Jesus quando lhes falou, lhes 
explicou as Escrituras, mas apenas na "fracção do pão", 
desaparecendo, depois, como que por encanto? Não há dúvida que se 
trata duma narrativa catequética que tem por finalidade apresentar 
a ressurreição ligada ao sacramento da eucaristia e a toda a 
liturgia sacramental que consiste na leitura da sagrada Escritura 
e na fracção do pão. O mesmo acontece com a narrativa da sua 
aparição aos onze em Lc 24, 36-42: "Jesus apresentou-se no meio 
deles e disse-lhes: 'A paz esteja convosco!' Dominados pelo 
espanto e cheios de temor, julgavam ver um espírito. Disse-lhes, 
então: "Por que estais perturbados e por que surgem tais dúvidas 
nos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu 
mesmo. Tocai-me e olhai que um espírito não tem carne nem ossos, 
como verificais que eu tenho.' Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos 
e os pés. E como, na sua alegria, não queriam acreditar de 
assombrados que estavam, Ele perguntou-lhes: 'Tendes aí alguma 
coisa que se coma?' Deram-lhe um bocado de peixe assado; e, 
tomando-o, comeu diante deles." Também, aqui, a intenção do 
evangelista é provar que o Ressuscitado não é um espírito ou um 
fantasma, mas é o mesmo da Galileia, de Jerusalém, embora em forma 
de Ressuscitado. E como prova, Jesus pede qualquer coisa para 
comer. A comensalidade tinha sido importante para Jesus e seus 
discípulos porque foi através dessa mesma comensalidade que se 
formou o grupo, que os discípulos receberam instruções de Jesus e, 
com elas, receberam a sua identidade. Nessa comensalidade comiam o 
pão, bebiam o vinho e comiam o peixe do lago. Por isso é que se 
fala tanto de peixe na comensalidade do Ressuscitado com os 
discípulos. No cap. 21 de João, às ordens de Jesus, os apóstolos 
apanham 153 peixes, e depois da pesca chegam à praia, onde está 
Jesus, que "tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com o peixe" 
(Jo 21, 13). Tudo isto só se pode explicar se tivermos em 
consideração que os discípulos e os primeiros cristãos realizavam 
os seus encontros eucarísticos com o pão e o vinho, mas também 
tinham as suas refeições com o pão e o peixe. Desconhecemos 
imensas coisas sobre as eucaristias primitivas e seu significado 
sacramental como signo da presença viva do ressuscitado no meio 
dos discípulos e da comunidade. Uma vez mais, trata-se duma 
catequese para que os discípulos acreditem que Jesus está mesmo 
vivo. Repare-se que no relato de Lucas nem com a aparição os 
discípulos ficam a acreditar. Eles apenas pensam que estão a ver 
um espírito ou um fantasma. O facto do evangelista se referir à 
comida do peixe, às mãos e ao peito é uma forma de demonstrar que 
o Jesus da cruz com as mãos e os pés pregados é o mesmo que está, 
agora, diante deles. O mesmo acontece na descrição de Jo 20, 19-
20: "Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando 
fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, com 
medo das autoridades judaicas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e 
disse-lhes: 'A paz seja convosco!' Dito isto, mostrou-lhes as mãos 
e o peito. Os discípulos encheram-se de alegria por verem o 
Senhor."


Reparemos que neste texto, as portas estão fechadas, mas, 
mesmo assim, Jesus entra na casa e mostra aos discípulos as mãos e o peito. Enquanto em Lucas se 
fala de "mãos e pés", agora, em João, Jesus apresenta as "mãos e o 
peito" porque no relato da morte de Jesus, João é o único a falar 
do peito trespassado, de onde "saíu sangue e água", como símbolo 
do baptismo e da eucaristia (Jo 19, 34). A mesma catequese 
acontece com a aparição de Jesus a Tomé em Jo 20, 27: "Olha as 
minhas mãos: chega cá o teu dedo! Estende a tua mão e põe-na no 
meu peito. E não sejas incrédulo, mas fiel." O mais importante 
desta narrativa são as palavras finais de Jesus: "Porque me viste, 
acreditaste. Felizes os que crêem sem terem visto!".
As narrativas das aparições do Ressuscitado que temos vindo a 
estudar referem-se todas a uma catequese sobre a identidade de 
Jesus: o Ressuscitado é o mesmo que o da Cruz, da Galileia e de 
Jerusalém. Quando os evangelhos foram escritos, muitos cristãos, 
sobretudo de origem grega acreditavam, sim, na ressurreição, mas 
dum Jesus Cristo que nada tinha a ver com o Jesus Cristo 
terrestre. Para demonstrar a fé no Ressuscitado, que é o mesmo, 
uno e indivizível, é que os evangelistas emprestam a roupagem da 
eucaristia (ou eucaristias) e apresentam os sinais físicos das 
mãos e dos pés ou das mãos e do peito. Para os que afirmavam que o 
Jesus histórico era diferente do Jesus ressuscitado temos a 
doutrina da primeira carta de S. João 4, 1-3: "Caríssimos, não 
deis fé a qualquer espírito, mas examinai se os espíritos são de 
Deus, pois muitos falsos profetas apareceram no mundo. Reconheceis 
que o espírito é de Deus por isto: todo o espírito que confessa 
Jesus Cristo que veio em carne mortal é de Deus, e todo o espírito 
que não faz essa confissão de fé acerca de Jesus não é de Deus. 
Esse é o espírito do Anticristo, do qual ouvistes dizer que tem de 
vir; pois bem, ele já está no mundo."
Acabámos de ver que as aparições não se devem tomar à letra, mas 
devem ser interpretadas. As narrativas são catequeses cristãs que 
nos querem provar, através da roupagem literária das aparições 
físicas, que o Ressuscitado é o mesmo Jesus de Belém, da Galileia 
e do Gólgota. Por isso mesmo, até os próprios discípulos duvidavam 
de Jesus quando este lhes aparecia, o que nos leva a concluir que 
também precisaram de acreditar como nós acreditamos. Ninguém 
duvida que Jesus apareceu aos apóstolos e discípulos, mas não 
sabemos como é que apareceu. As narrativas não têm por intenção 
descrever esse como mas apenas a verdade da ressurreição de Jesus. 
Assim se explicam as narrativas das aparições sobre a identidade 
do Ressuscitado. Para além das narrativas sobre a identidade do 
Ressuscitado há também as narrativas sobre a missão que o 
Ressuscitado confia aos apóstolos e discípulos. Entre elas 
sobressai a de Mt 28, 16-20: "Os Onze discípulos partiram para a 
Galileia, para o monte que Jesus lhes tinha indicado. Quando o 
viram, adoraram-no; alguns, no entanto, ainda duvidavam. 
Aproximando-se deles, Jesus disse-lhes: "Foi me dado todo o poder 
no Céu e na Terra. Ide, pois, fazei discípulos de todos povos, 
baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, 
ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que 
Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos."'
O primeiro aspecto importantc a ter em conta nesta narrativa é a 
afirmação do texto: "alguns, no entanto, ainda duvidavam" da 
ressurreição de Jesus. O mesmo acontece em Lc 24, 37, onde se diz 
que os Onze, "dominados pelo espanto e cheios de temor, julgavam 
ver um espírito." Mas o exemplo maior de descrença acontece com 
Tomé ao dizer aos demais apóstolos: "Se eu não vir o sinal dos 
pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos 
e a minha mão no seu peito, não acredito" (Jo 20, 25). Tomé 
simboliza, pois, todos os descrentes na ressurreição, os de há 
dois mil anos como os de hoje em dia. E é por isso que Jesus lhe 
diz: "Porque me viste, acreditaste. Felizes os que crêem sem terem 
visto!" Há, portanto, que afirmar: também os apóstolos e 
discípulos precisaram de fé para acreditar na ressurreição.


Vamos tratar agora das narrativas da ressurreição que têm a ver com a autoridade dos próprios apóstolos.


Comecemos por S. Paulo na 1Cor 15, 3-8: "Transmiti-vos, 
em primeiro lugar, o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos 
nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou 
ao terceiro dia, segundo as Escrituras; apareceu a Cefas e depois 
aos Doze. Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma 
só vez, a maior parte dos quais ainda vive, enquanto alguns já 
morreram. Depois apareceu a Tiago e, a seguir, a todos os 
Apóstolos. Em último lugar, apareceu-me também a mim, como a um 
aborto." O estranho desta tomada de posição de S. Paulo consiste 
no facto do Apóstolo não nos apresentar uma narrativa de aparição 
do Ressuscitado à maneira dos evangelhos, mas apenas enunciar uma 
lista de pessoas a quem o Senhor apareceu. Paulo distingue entre 
Cefas e os Doze, o que é estranho, e o mesmo entre os "Doze" e os 
"Apóstolos". Fala do aparecimento a mais de quinhentos irmãos, dos 
quais alguns ainda vivem, o que não condiz com os evangelhos, e, 
finalmente, acentua as pessoas de Tiago e dele próprio.
O Apóstolo escreve muito antes dos evangelhos, por volta do ano 
54-55, o que nos leva a concluir que, ao princípio, a tradição da 
Igreja apenas anunciava as pessoas a quem o Senhor ressuscitado 
tinha aparecido, e só depois, mais tarde, é que se foram formando 
as narrativas como vêm nos evangelhos, a fim de provar 
catequeticamente a tal identidade do Ressuscitado e a missão da 
Igreja a partir duma palavra fundamentadora do próprio 
Ressuscitado.


»» Mas a lista de S. Paulo também tem em linha de conta a importância ou a autoridade dos Apóstolos. Por isso anuncia a primeira aparição a Cefas e individualiza também a pessoa de Tiago, precisamente por causa da importância que teve no comando da igreja primitiva de Jerusalém. Reparemos que em nenhuma narrativa dos evangelhos se evidencia a pessoa de Tiago que, aliás, não pertencia aos Doze.



Neste particular, a pessoa de Cefas sobressai em muitas narrativas; basta consultar Mc 16, 7: "Ide, pois, e dizei aos seus 
discípulos e, Pedro...", Li- 24, 34: "Realmente o Senhor 
ressuscitou e apareceu a Simão!"; Jo 20, 2: "[Maria Madalena] 
correu e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo, o que 
Jesus amava, e disse-lhes: 'O Senhor foi levado do túmulo e não 
sabemos onde o puseram"'; Jo 21, 7: "Então, o discípulo que Jesus 
amava disse a Pedro: 'É o Senhor!' Simão Pedro ao ouvir que era o 
Senhor, apertou o saio, porque estava sem mais roupa, e lançou-se 
à água"; Jo 21, 15-17: "Depois de terem comido, Jesus perguntou a 
Simão Pedro: "Simão, filho de João, tu amas-me mais do que estes?" 
Pedro respondeu: "Sim, Senhor, Tu sabes que eu sou deveras teu 
amigo." Jesus disse-lhe: "Apascenta os meus cordeiros...". Todos 
estes textos nos dão a entender que as aparições do Ressuscitado a 
Simão Pedro, de maneira directa ou indirecta, estão relacionadas 
com sua autoridade e primazia na Igreja primitiva. Todos sabemos 
que o problema da substituição de Jesus como autoridade visível na 
comunidade dos crentes foi um problema sério e complicado. Os 
próprios crIStãos andavam divididos entre a figura de Pedro, de 
Tiago, de Paulo, do discípulo amado e de Apolo. Mas é a figura de 
Pedro que acaba por se impor e as aparições do Ressuscitado a 
Pedro chancelam esta posição da própria Igreja, que, em Mateus, é 
transposta para a vida pública de Jesus (16, 17-19).
É fácil apercebermo-nos de que as narrativas da ressurreição não 
obedecem a qualquer tipo de concordismo histórico. Em Mateus, 
Jesus aparece apenas uma vez aos Onze no monte da Galileia, em 
Lucas aparece também uma só vez, mas, agora, em Jerusalém, e em 
Marcos, Jesus não aparece nenhuma vez, já que o evangelho 
primitivo de Marcos terminava no cap. 16, 9. Em João, Jesus 
aparece duas vezes em Jerusalém e outra vez no lago de Tiberíades. 
Em todas estas aparições os conteúdos doutrinais são diferentes 
porque têm em vista ora a identidade da pessoa do Ressuscitado, 
ora a missão que o Ressuscitado confia aos Onze ou somente a 
Pedro, ora a chancela duma autoridade própria, como é o caso de 
Pedro, de Tiago e do próprio Paulo na 1Cor 15. Aliás, se Paulo tem 
a consciência de ser Apóstolo como os demais por isto mesmo: Jesus 
apareceu-lhe (1Cor 9, 1).



Por tudo isto, concluímos que a ressurreição de Jesus não obedece 
a critérios de verificação "histórica". Não se trata dum 
acontecimento histórico que possa ser comprovado por métodos das 
ciências históricas. Ninguém viu, fotografou ou filmou o momento 
da ressurreição de Jesus. Mas as pessoas a quem Jesus apareceu são 
históricas. O Ressuscitado apenas diz: "Sou Eu", mas, mesmo assim, 
os Apóstolos ainda duvidam, sinal de que também eles precisaram de 
acreditar. Os Apóstolos tiveram uma experiência única: a de que 
Jesus estava vivo e que este Vivo lhes falava e que eles lhe 
podiam falar. Geralmente as narrativas usam um aoristo passivo: 
Jesus deu-se-lhes a aparecer; Jesus fez com que eles o vissem. A 
partir daí eles perdem o medo e anunciam a ressurreição por toda a 
parte. O espírito da ressurreição entrou neles e tudo vai ser 
diferente a partir de então.
A ressurreição de Jesus não tem qualquer paralelo em nenhuma outra 
religião, a começar pelo judaísmo. Os judeus só começaram a 
acreditar numa ressurreição colectiva, no fim de tudo, ou no juízo 
final. Esta ideia apareceu por causa dos mártires judeus no tempo 
de Antíoco Epifânio e aparece narrada no primeiro livro dos 
Macabeus, no cap. 7, escrito por volta do ano 100 a.C. No tempo de 
Jesus, os saduceus ainda não acreditavam nem sequer nesta 
ressurreição final, ao contrário dos fariseus. É o que diz Marta a 
Jesus acerca do seu irmão Lázaro: "Eu sei que ele há-de 
ressuscitar na ressurreição do último dia" (Jo 11, 24). Por isso, 
nem os próprios Apóstolos esperavam qualquer ressurreição. Esta é, pois, a novidade de Cristo e a novidade do Cristianismo de ontem, de hoje e de sempre.


Andrés Torres Queiruga defende a ressurreição de Jesus “em espírito”, sem a necessidade primária do “corpo”. Se, por hipótese, se encontrasse o túmulo de Jesus com as suas ossadas, havia motivos para continuar a falar de ressurreição. O grande teólogo católico Karl Rahner também defendeu esta tese. Neste sentido, a ressurreição de Jesus seria um acontecimento histórico simbólico ou metafórico, digno de crédito, mas diferente, em qualidade de perceção, da tradição teológica da fé cristã tradicional. Mas nunca por nunca, esta tradição, desde os Padres da Igreja, apresentou provas de história positiva sobre a ressurreição de Jesus. Todas as provas são humanas: Jesus fez-se aparecer a pessoas que, por sua vez, se apresentaram como tais. É, pois, uma prova “testemunhal”. E neste testemunho também entra a retórica narrativa apologética. O caso mais significativo é a narrativa sobre o apóstolo Tomé: “Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos. Estende a tua mão e mete-a no meu peito. Não sejas descrente! Acredita!” E Tomé respondeu: “Meu Senhor e meu Deus!” Jesus disse-lhe: “Acreditas agora porque me viste? Felizes os que acreditarem sem terem visto” (Jo 20, 27-29).


Escreve o exegeta Carreira das Neves: "As dúvidas dos cristãos de Corinto ou dos cristãos das comunidades joânicas são as de ontem e de hoje. O problema é que a exegese bíblica moderna fala de narrativas “apologéticas” e não “históricas”. Históricas são as dúvidas. Não nos escandalizemos, pois, se afirmarmos que não temos provas de história factual, mas apenas de história testemunhal. E também estas nem sempre são fáceis de entender. Como compreender, de facto, a primeira narrativa paulina a ser escrita (por volta do ano 53-55): “Apareceu a Pedro e, a seguir, ao grupo dos doze [não eram só onze?]. Apareceu ainda a mais de quinhentos “irmãos” de uma só vez. A maior parte deles ainda vive, mas alguns já morreram [quem são este quinhentos irmãos, dos quais nunca mais se fala?]. Apareceu, depois, a Tiago e, em seguida, a todos os apóstolos [quem são estes apóstolos, diferentes, necessariamente, do grupo dos doze?]. Em último lugar, apareceu-me também a mim, que sou quase como um aborto” (1Cor 15, 5-8). Por outro lado, S. Paulo refere a verdade da ressurreição em função da verdade da “parusia” e do “juízo final”, que devia acontecer durante a vida histórica de S. Paulo: “Vou dar-vos a conhecer um mistério: nem todos morreremos, mas todos havemos de ser transformados. Isso acontecerá num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da trombeta final. Quando ela se ouvir, os mortos ressuscitam para não mais morrerem, e nós seremos transformados” (1Cor 15, 51-52; cf. 1Ts 4, 15-17).


A manhã da Páscoa não é um acontecimento separado dos “ressuscitados” seguidores do Mestre que venceu a morte. Mas o Mestre é muito mais do que um Sócrates, Platão ou Aristóteles, Moisés, David ou Isaías. De contrário, não precisávamos de acreditar. Nem o Jesus “joânico” nos diria: “Felizes os que acreditarem sem terem visto.” Quem acredita, a começar pelos apóstolos, mulheres que vão ao túmulo, S. Paulo, carrega consigo o grande “mistério” do Infinito no finito histórico de cada um. A ressurreição venceu a morte. A vida é um aleluia de ressurreição em liturgia humano-cristã, pessoal e cósmica. Com a ressurreição, o homem todo (corpo e alma) e todo o homem percorre os caminhos da Vida que não tem fim. A ressurreição é um signo de sentido final. Resume-se, então, à grande “metáfora” da Vida? Só é metáfora se for resposta a um acontecimento “real” de realidade transcendente, infinita, sem compreensão puramente racional, histórica e humana."



Pe. Joaquim Carreira das Neves, Professor Doutor Jubilado da Universidade Católica Portuguesa




http://ceil.fcsh.unl.pt/cadernos/PDF/11_j_carreira_das_neves.pdf - GNOSIS – GNOSTICISMO. UMA INTRODUÇÃO


ceil.fcsh.unl.pt



Joaquim Carreira das Neves, Professor Doutor Jubilado da Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, Portugal


O Espírito Santo revelado na Sagrada Escritura

A família oculta de Jesus
revistaepoca.globo.com

Ressurreição - Debate | A MINHA HEMEROTECA VIDEO
aminhahemerotecavideo.blogspot.com

Reencarnação ou Ressurreição?
Maria Luísa Albuquerque

Os Evangelhos segundo José Rodrigues dos Santos

Por Natália Faria 
Maria não era virgem. Jesus era irmão de Judas, nunca ressuscitou e nunca, mas mesmo nunca, lhe passou pela cabeça fundar uma nova religião, segundo o jornalista e escritor José Rodrigues dos Santos. A(s) Igreja(s) reagi(ram)u intempestivamente. Desenganem-se os mais leigos: não foram afirmações como estas que indispuseram a(s) Igreja(s), que até [admitem] as admite como verosímeis; o que irritou no livro O Último Segredo é que tais teorias surjam como verdades inegociáveis

A história de que Jesus Cristo nasceu em Belém é completamente inventada. A Virgem Maria não era virgem. Jesus tinha vários irmãos. Entre estes, Judas. O Novo Testamento não passa de uma colagem fraudulenta ao antigo. A narrativa da ressurreição também é uma fraude e Cristo, que afinal era um pregador apocalíptico desprezado pelos seus parentes, nunca quis fundar o cristianismo. Parece que estas teses, que podem surpreender os cristãos com conhecimentos mais rarefeitos sobre teologia (a maior parte de nós), são de há muito conhecidas dos teólogos e a Igreja Católica é a primeira a reconhecer a verosimilhança de algumas delas, apesar de a doutrina oficial pregada a partir dos altares insistir no contrário.

Vêm todas embrulhadas na trama detectivesca de O Último Segredo, do jornalista José Rodrigues dos Santos. Duas semanas depois de ter sido lançado, o livro já vendeu 90 mil exemplares e está a ser reimpresso pela editora Gradiva. Mas o que irritou a Igreja Católica não foi que tais revelações fossem transportadas para as estantes dos milhares de portugueses que compraram o livro. O que irritou a Igreja Católica foi que José Rodrigues dos Santos as tenha travestido de verdades absolutas e inegociáveis. Chega-se à página 11 das 563 que compõem o livro e lá está: "Todas as citações de fontes religiosas e todas as informações históricas e científicas incluídas neste romance são verdadeiras". Na contracapa a editora anuncia que do que ali se trata é de revelar "a verdadeira identidade de Jesus Cristo".

Temos então que, diz o teólogo de literatura bíblica Joaquim Carreira das Neves, o pivot da RTP descobriu a verdade última sobre um tema que há centenas de anos divide milhares de teólogos. "Eu estive em bibliotecas em Jerusalém que têm 400 mil livros sobre isto. Em Roma, estive noutra biblioteca que tem 300 mil livros. Na minha pequena biblioteca tenho três mil livros sobre isto. Há milhares e milhares de exegetas como eu que passaram a vida toda à volta disto e, que eu saiba, ninguém chegou a estas conclusões lapidares de José Rodrigues dos Santos que leu 18 livros e que ficou a saber tudo", desabafa, já agastado com tantos telefonemas, tantas cartas, tantos emails a perguntar: "Então, afinal, como é que é?...".

"Se José Rodrigues dos Santos realmente descobriu a verdade sobre Jesus Cristo, que até é a figura mais estudada da história", ironiza o padre e professor de Filosofia Anselmo Borges, "então que escreva um artigo científico ou uma tese e se deixe confrontar pelos seus pares para ficar na história das ciências bíblicas como um nome inapagável". Para Anselmo Borges, que até aceitou apresentar o livro a convite da Gradiva, o problema está em que o autor "quis jogar nos registos ficcional e histórico-teológico ao mesmo tempo e isso não é intelectualmente honesto, porque o leitor não tem a capacidade de destrinçar o que é ficcional e o que não o é". Para Anselmo Borges, "Jesus é uma figura em aberto e, portanto, existe toda a liberdade ficcional". "Não se pode é", insiste, "jogar nos dois tabuleiros ao mesmo tempo".
Não gosto · 1 · Editar · há 4 minutos
Manuel Magalhães
Nada de novo »» Tivesse o autor prescindido da tal nota da página 11 e o assunto estaria enterrado. Talvez o Secretariado Católico Nacional (de Portugal) da Pastoral da Cultura, dirigido pelo padre e poeta José Tolentino de Mendonça, nem se tivesse dado ao trabalho de publicar a nota em que criticou o "tom de intolerância desabrida" com que o livro entra "na história da formação da Bíblia" e na "fiabilidade das verdades de Fé em que os [cristãos conservadores] acreditam".

Na resposta, José Rodrigues dos Santos repete que o livro não contém efectivamente nada de novo. Mas a verdade, acrescenta, é que "o cidadão comum nunca ouviu ninguém dizer que Cristo não era cristão e que há indícios no Novo Testamento que questionam seriamente a virgindade de Maria e que existem textos fraudulentos na Bíblia". No final, o desafio: "A Igreja está com medo de quê? Que os seus fiéis descubram a verdade sobre Jesus e a Bíblia? O Último Segredo abriu uma janela de oportunidade para se explicar a verdade aos crentes".

É assim, Joaquim Carreira das Neves? "A Igreja não está a esconder nada, nós discutimos isso tudo nas aulas de Teologia, eu dei centenas de conferências sobre esse assunto, agora não me vou pôr no altar a falar, sem mais nem menos, das diferentes teses que existem. Não é lugar. O lugar para isso são as universidades, as conferências, os livros publicados. E, de resto, são questões em aberto. Está tudo em aberto".

Ao padre Anselmo Borges não custa admitir que a Igreja "deve formar melhor os seus fiéis e promover um maior esclarecimento sobre a figura de Jesus Cristo". "Como em Portugal a Teologia se vai mantendo longe da universidade pública, os fiéis ficam-se pela catequese quando são crianças e depois criam-se embaraços como este", reconhece.

O que responder então a quem cresceu a acreditar que Jesus nasceu em Belém, que era o único filho de José e Maria e concebido sem pecado e que ressuscitou ao terceiro dia? "Se eu penso que Jesus teve irmãos? É muito provável que tenha tido. Se eu penso que Maria foi virgem? Para já, não me faz diferença. E volto a lembrar que o credo não é um tratado de biologia, portanto a virgindade pode querer dizer outra coisa qualquer e, efectivamente, S. Paulo não faz nenhuma referência à virgindade. Agora, isso para mim não constitui escândalo nenhum. São teses em aberto. Quanto às aparições pós-ressurreição, há ali um pressuposto que estas não se deram, claro, mas os crentes que sabem o que isto quer dizer não afirmam que a ressurreição é um acontecimento da história empírica: é uma experiência radical de fé, e, portanto, uns acreditam e outros não", adianta Anselmo Borges, para repetir que a sua divergência fundamental em relação ao livro não se prende com estes episódios, mas com o método. É o método "envenena o livro todo".

Desde logo por causa do número de vezes em que as palavras fraude e intrujice surgem a qualificar os textos do Novo Testamento. A tese do romance é que nem Marcos, nem Lucas, nem Mateus, nem João escreveram qualquer linha e, portanto, os evangelhos cuja autoria lhes é imputada mais não são do que falsificações. Não é que isso seja completamente errado, contextualiza Teresa Toldy, doutorada em Teologia e uma das consultoras do livro. "O facto de muitos destes textos do Novo Testamento não terem sido escritos pelas pessoas a quem a autoria foi atribuída é pacífico, mas a conclusão de que por isso são fraudulentos já não". Explique-se melhor: "Naquela época, quando um texto era escrito para um grupo, colocar nele o nome de uma figura de referência para esse grupo era conferir autoridade ao texto e não se tratava de nenhuma fraude. Há uma tradição oral que depois se fixa num texto com um dado autor. E o principal problema do livro está nesse curto-circuito da compreensão do que era a noção de autoria naquela época e a noção de autoria actual. Ou seja, uma prática que na época conferia maior autoridade ao texto é no romance interpretada como uma fraude. Portanto, está correcta a assunção de que os textos não foram escritos pelos autores, mas é abusiva e anacrónica a conclusão de que, por isso, são textos fraudulentos".

Teresa Toldy não partilha, assim, das conclusões que José Rodrigues dos Santos põe na boca do criptanalista Tomás de Noronha, o herói do seu livro. "Tive oportunidade de lhe dizer isso, mas, se ele prescindisse dessa abordagem, o livro desmanchava-se e penso que por isso a terá mantido", adiantou ao P2.

Virgem ou não? - José Tolentino Mendonça escreveu a nota e sobre este assunto não tem "mais nada a acrescentar". O que se pode é ir ao romance buscar a explicação para a tese de que Maria não era virgem como nos habituámos a ler nos evangelhos de Lucas e Mateus. Nas profecias de Isaías escritas em hebraico a palavra que este usou para se referir à mãe do Messias foi "mulher jovem" e não "virgem". Na tradução para grego, o autor enganou-se neste versículo e em vez de "mulher jovem" a palavra que usou foi phartenos, ou seja, "virgem".

"Acontece que os autores dos dois evangelhos, Lucas e Mateus, leram a profecia de Isaías na sua tradução grega, e não no original em hebraico. Querendo associar Jesus às profecias das Escrituras, para o legitimar enquanto Messias e Filho de Deus, escreveram que Maria era virgem, coisa que aliás Marcos, João e Paulo nunca referiram", atira Tomás de Noronha, na página 107. O padre Carreira das Neves confirma que "São Paulo, que escreveu uns 20 anos depois da morte de Jesus, fala de Maria apenas uma vez e para dizer que Jesus nasceu de uma mulher".

Umas linhas adiante e eis Tomás de Noronha a citar S. Marcos, versículo 6:3 ("Não é ele o carpinteiro filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e Simão? E as Suas irmãs não estão aqui entre nós?") para sustentar: "Se a mãe de Jesus era de facto virgem, como pretendem Lucas e Mateus, como concebeu ela essa filharada toda? Também por obra e graça do Espírito Santo? Foram todas imaculadas concepções?". Foram, padre Carreira das Neves? "Está tudo em aberto. Há uma teoria que diz que são irmãos de sangue e há outra que diz que são irmãos de cultura e esta é a tese que a Igreja seguiu a partir dos séculos II e III, com São Jerónimo". Anselmo Borges também se refere à existência de uma teoria que defende que na altura "a expressão irmãos era muito abrangente e podia ser aplicada a companheiros". E a uma outra teoria dos que defendem tratar-se "não de irmãos, mas de primos". O criptanalista Tomás de Noronha não tem dúvidas. "A frase de Marcos (...) torna evidente pelo seu contexto que se está a referir a irmãos de sangue. O resto não passa de esforços desesperados para adaptar os factos à teologia".

Por afirmações como esta é que Carreira das Neves se mostra incompatibilizado com o romance. "Um romance é um romance, ponto. Mas ele diz que aquilo está tudo provado, destrói e reconstrói tudo à sua maneira, sustenta que o que se diz nas missas é uma intrujice. Para mim, o problema é ele transformar-se nesta Pitonisa de Delfos que detém a verdade e a última palavra e que chama erros, fraude e falsificações às variantes que há, seja no Velho como no Novo Testamento, porque a Bíblia fez-se assim mesmo, através de variantes e de releituras de leituras ", desabafa, para se demarcar igualmente da visão de um Jesus apocalíptico, género versão antiga daqueles malucos que vemos nas ruas com cartazes e barbas por aparar a apregoar o fim do mundo, a quem nunca terá passado pela cabeça criar uma nova religião. "É uma posição que ele pode defender, mas que não me parece que seja verdadeira".

Ideias no Deserto
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A bíblica separação das águas | Ideias no Deserto
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Manuel Magalhães partilhou uma ligação.
Joaquim Carreira das Neves, Professor Doutor Jubilado da Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, Portugal
A Mãe e os irmãos de Jesus »» http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/4422.pdf

Manuel Magalhães gosta de um artigo na aplicação IOL.





Paulo Sergio Villasanti

Manuel Magalhães; peço que apenas publique perguntas bíblicas e teológicas. Se preferir, publique a pergunta e responda, para outros membros avaliarem e responder.


Manuel Magalhães

Caro Paulo você escreveu que o corpo de Jesus era "especial" [as suas palavras textuais foram: "Vemos na Bíblia que o corpo de Jesus não era igual ao nosso (não era de carne, osso e sangue), por vários fenómenos como atravessar paredes e flutuar. Era "semelhante" não igual. Este ponto polémico já foi discutido por vários concílios nos primeiros séculos da Igreja sem solução"], não era como o nosso. Se formos à interpretação literal, o rabbuni tinha antes da ressurreição um corpo físico, após a ressurreição temos um corpo subtil e na ascensão Yoshke tem um corpo espiritual. Leia o livro: http://www.amazon.com/Good-Heart-Buddhist-Perspective-Teachings/dp/0861711386/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1362859356&sr=1-1&keywords=dalai+lama+and+christianity » Concorda? [Você é complicado. Pode responder agora, Já explanei o meu pensamento.]


Manuel Magalhães

Tudo o que publiquei é teológico e bíblico. Pelo menos na minha universidade é entendido assim.





Manuel Magalhães; uma ciência humana como a teologia não é exata, está a mercê de interpretações de grupos e indivíduos, por isso é tão rica e fascinante, não concorda? Impossível não ser "complicado".





Concordo. Durante uma conferência sobre ciência e religião, na Christ University de Bangalore, o Dalai Lama afirmou: “Uma religião deve se limitar a fazer intervenções orientadas para o serviço, como dar uma instrução e oferecer sistemas de assistência à saúde e não induzir à conversão”.


Numa reportagem, a AsiaNews destacou que as declarações do líder religioso, sobre o cristianismo e as conversões, parecem “contraditórias” e podem ser mal interpretadas, podendo ser comparadas com a ideologia “hindutva” (o nacionalismo hinduísta). Esta é a opinião de Sajan George, presidente do Global Council of Indian Christians (Gcic). 

O líder tibetano enfatizou a enorme contribuição “que os cristãos oferecem à educação”, mas também apontou que as instituições religiosas deveriam se concentrar em salvar a sociedade, pelo que não se deveria fazer “proselitismo usando dinheiro”, já que “não apenas é prejudicial, mas também vai contra os preceitos cristãos”, embora “a conversão, em si mesma, não deve ser criticada quando acontece com absoluta consciência”.

Ao mesmo tempo, acrescentou, “responder às conversões com ódio e violência, como fazem os hinduístas que queimam igrejas e destroem casas, não é digno da natureza tolerante da religião mais antiga do mundo”.


Manuel Magalhães

Santidade, qual é a melhor religião? - Perguntaram ao Dalai Lama. Ele respondeu: "A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus, do Infinito. É aquela que te faz melhor." Perguntaram: "O que me faz melhor?" 



E ele respondeu: "Aquilo que te faz mais compassivo" [Todos os presentes sentiram a ressonância tibetana, budista, taoísta da sua resposta], Prosseguiu: "Aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável... Mais ético... A religião que conseguir fazer isto de ti é a melhor religião..."







O que é a consciência? Em duas "aulas" sobre o funcionamento do cérebro, ministradas pelos neuropesquisadores Caroline Schnakers, da Universidade de Liège (Bélgica), e Adrian Owen, da Universidade de Cambridge, os dois, como bons cientistas, falaram sobre a consciência, localizando-a no cérebro. Já o pesquisador tibetano Geshe Lobsang Tenzin Negi, da Universidade Emory, nos EUA, foi o primeiro a notar: a consciência para a ciência ocidental é a afirmação do "eu". Para a tradição budista, trata-se de uma condição universal, desentranhada da materialidade cerebral.

"Devemos saber separar as coisas da ciência das coisas da religião", afirma o Dalai Lama. Segundo o Dalai Lama, a expansão do conhecimento científico sobre a mente não é garantia alguma da redução do sofrimento humano. "Às vezes, até provoca mais. A descoberta do mecanismo da fissão nuclear não gerou mais sofrimento? Sem a compaixão [conceito central no budismo], o conhecimento é incapaz de aumentar a felicidade", disse.

O Dala Lama defendeu, no tocante à religião, a diversidade religiosa. Segundo ele, todas as religiões possuem um fundo comum, baseado na compaixão, no perdão, no amor e na autodisciplina.

"É necessário que existam diferentes abordagens religiosas, porque, se houvesse uma só - por mais maravilhosa que fosse -, não daria conta da diversidade de motivações que levam as pessoas a buscar [o sagrado]".

Mas também brinca ao relatar como um amigo protestante insiste em chamá-lo de "bom cristão", pela sua defesa dos princípios caros ao cristianismo.

"Eu sempre respondo que ele é que é um bom budista", disse ele.

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