DEUS É UM SÓ E A NOSSA DEIFICAÇÃO


15Meus irmãos, apresento-vos um exemplo da vida corrente: quando alguém faz um testamento em forma legal, ninguém o pode anular nem acrescentar nada. 16Ora bem, Deus fez as suas promessas a Abraão e à sua descendência. A Escritura não diz «aos seus descendentes», como se se tratasse de muitas pessoas, mas à tua descendência, indicando assim uma só pessoa, que é Cristo17O que eu quero dizer é isto: Deus fez um pacto que é válido. A lei, que veio quatrocentos e trinta anos mais tarde, não podia anular aquele pacto e deixar sem valor a promessa de Deus. 18Ora, se aquilo que Deus dá como herança dependesse da lei, não seria através da promessa. Mas foi pela promessa que Deus o concedeu a Abraão.
19Para que serve então a lei? A lei veio depois para mostrar aquilo que é contra a vontade de Deus. E só devia durar até que viesse aquela descendência, a quem a promessa se destinava. Essa lei foi dada pelos anjos e houve um homem que serviu de mediador20Mas não é preciso mediador, quando se trata de uma só pessoa; e Deus é um só.

A cristologia do logos, na sua pretensão universal, salienta a divindade de Jesus, o poder salvífico da sua acção, a revelação do próprio Deus na sua pessoa; salienta, além disso, a continuidade dessa presença e dessa acção, sobretudo no interior de cada indivíduo, por actuação do Espírito, como transformação espiritual. Deixa em segundo plano, contudo, o significado da actuação concreta de Jesus Nazoreu, do percurso da sua paixão. Por outro lado, ao situar-se ao nível do esquema gnóstico da relação entre o «uno» supremo e o logos mediador, acaba por paradoxalmente correr certos riscos de diminuir a própria divindade de Jesus, num esquema de intermediários salvíficos; e o automatismo dessa salvação, pelo poder de Deus, através dos intermediários, hierarquizando o processo, reduz o ser humano, como último elo da hierarquia, a resultado do destino, pouco autónomo e dificilmente assumido como sujeito livre do seu acolhimento da salvação. Para além disso, a dimensão carnal do ser humano é tendencialmente desprezada, sendo este reconduzido à sua participação num espírito único e universal. Paulo condena tal pensar em Gálatas 3. Já, e como solução para este problema dos "Anjos" e o não ter sido o HaShem (na visão de Paulo), o Rav Yossef Kaltsky a propósito do livro de Ester (a Meguilat Ester) fala do que sente alguém que passou por um grande perigo de vida, uma situação na qual parecia que não havia mais esperanças, mas que no final reverteu-se numa milagrosa salvação. Este foi exatamente o sentimento que o povo judeu vivenciou nos dias de Mordechai e Ester, e esta é a fonte da verdadeira alegria de Purim: o reconhecimento do amor que D'us tem pelo povo judeu. Comer, beber e alegrar-se em Purim não é apenas a expressão da alegria pela salvação do decreto de Haman. A alegria vem do reconhecimento do motivo que resultou na salvação: o amor de D'us pelo povo judeu. Este é o ponto em comum entre Yom Kipur e Purim.

Este sentimento, de perceber de uma maneira especial o amor de D'us, tem o potencial de fazer o ser humano chegar a elevados níveis espirituais. Esta elevação pode ser tão grande que o Talmud (Shabat 88a) afirma que a geração de Mordechai e Ester recebeu a Torá novamente. A diferença é que a Torá no Monte Sinai foi recebida com temor (ilustrado na metáfora angélica, que permite múltiplas leituras hermenêuticas), enquanto a Torá desta geração foi recebida com amor (a presença literal do HaShem, sem recurso aos Mal'akim, só a 
שכינה (Schechinah) do ETERNO). Esta é a solução para "reter" o HaShem no judaísmo. Continua, pois, a competição pelo amor do Eterno. Uma sadia competição.


Jesus declara que Ele deu aos seus discípulos uma participação na divina glória e Ele ora para que possam alcançar a união com D'us: "Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado para que sejam um como nós o somos; eu neles e Tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que Tu me enviaste, e os amaste como também amaste a mim" (João 17:22-23). Os Padres Gregos tomaram este e outros textos similares no seu sentido literal e ousaram falar da "deificação" do homem (do grego theosis). Se é para o homem participar da glória de Deus, eles dizem, se é para que sejam "aperfeiçoados na unidade" com Deus, isto significa de fato que o homem precisa ser "deificado". Ele é chamado para tornar-se, pela graça, o que Deus é por natureza. A este respeito, Santo Atanásio resumiu a finalidade da Encarnação com o seguinte: "D'us tornou-se homem para que possamos nos tornar D'us”. Assim, se este "tornar-se D'us, esta theosis, é possível, [Jesus] o Salvador deve ser ambos, completamente homem e completamente D'us. Ninguém a não ser D'us pode salvar o homem. Portanto, se Jesus é quem salva, ele deve ser D'us. Mas apenas se ele for verdadeiramente homem, como somos, podemos nós homens participar naquilo que ele fez por nós. É firmada uma ponte entre D'us e o homem pelo Jesus Encarnado, homem-Deus. "E acrescentou: Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de D'us subindo e descendo sobre o Filho do homem" (João 1:51). Não é apenas os Anjos que usam aquela escada mas toda a raça humana."


Nicéia: I Concílio Ecuménico
A principal realização do Concílio de Nicéia em 325 foi a condenação do arianismo. Arius, um padre de Alexandria, sustentava que o Filho era inferior ao Pai e, ao traçar uma linha divisória entre Deus e a criação, ele colocou o Filho entre as coisas criadas: uma criatura superior, é verdade, mas uma criatura. A sua intenção, sem dúvida, era proteger a unidade e transcendência de Deus, mas o efeito dos seus ensinamentos, fazendo Cristo menos do que Deus, tornava a deificação do homem impossível. Apenas se Cristo for verdadeiramente Deus, o Concílio respondeu, poderá nos unir a Deus, pois ninguém além de Deus poderá abrir para o homem o caminho da união. Cristo é "um em essência" (homoousios) com o Pai. Ele não é um semideus ou uma criatura superior, mas Deus da mesma forma que o Pai é Deus: "Deus verdadeiro de Deus verdadeiro”, o Concílio proclamou no Credo que redigiu, "gerado não criado, consubstancial ao Pai."O Concílio de Nicéia tratou também da organização visível da Igreja. Fazendo referência aos três grandes centros: Roma, Alexandria e Antioquia (Cânone VI). Ele também dispôs que à Sé de Jerusalém, mesmo permanecendo sujeita ao Metropolita de Cesaréia, deveria ser dado o próximo lugar de honra após estas três (Cânone VII).

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