Pentecostismo primeiro na Igreja Católica


  • Pentecostismo primeiro na Igreja Católica: http://ruitavares.net/textos/nao-ha-milagres/#more-3048  antes mesmo da Rua Azuza e o seu Reavivamento evangelical: http://pt.wikipedia.org/wiki/Reavivamento_da_Rua_Azusa

    » Havia em Paris um padre chamado Pâris, François de Pâris, que vivia uma vida ascética entre os pobres de um dos bairros mais pobres da cidade e já por duas vezes tinha dado a esses pobres todo o seu dinheiro (quando entrou na vida religiosa e quando recebeu por herança as propriedades dos seus pais, que vendeu e cujo lucro distribuiu). Tinha inúmeros seguidores e quando morreu aos 39 anos, em 1727, rapidamente foi tomado por santo. No seu enterro no cemitério de St. Médard juntou-se uma enorme multidão de veneradores do padre Pâris que como relíquias recolheu terra da campa, lascas de madeira do caixão, e até fios de cabelo e unhas do cadáver de Pâris.

    Não passou muito tempo, nos meses e anos seguintes, até que começassem a chegar notícias de que havia milagres no cemitério de St. Médard. As multidões não mais abandonaram o túmulo do padre Pâris; algumas pessoas diziam-se curadas por ele, outras visitavam o lugar por curiosidade. Alguns religiosos começaram por ver o fenómeno com simpatia e chegaram a tentar iniciar o processo para a canonização do padre Pâris — mas o poder político desconfiava daqueles ajuntamentos. Cavaram-se as barricadas habituais; a imprensa dedicou atenção e apoio ao fenómeno; a autoridade dedicou-lhe atenção e polícia.

    Foi com espanto geral que, no ano de 1731, em vez dos relatos de milagres começaram a surgir notícias de que os devotos do padre Pâris estavam a sofrer convulsões no seu lugar de reunião. O primeiro a ter essas convulsões foi um abade de Montpellier chamado Bescherand que visitava o túmulo de Pâris duas vezes por dia. Em breve muitas outras pessoas — na maioria mulheres jovens — começaram a ter também convulsões, acompanhadas de grunhidos, guinchos e espumar da boca. Houve uma grande perturbação nas opiniões. Toda a Paris queria ver com os seus olhos o que se passava e gente de todas as classes, incluindo nobres, foram a St. Médard. Muitos juntaram-se ao movimento e experimentaram pessoalmente as convulsões. Voltaire escarneceu do fenómeno, apesar de um dos seus irmãos ser “convulsionário” ativo, ou talvez por isso mesmo. O principal jornal jansenista, clandestino, via o que se passava com fascínio e sugeria que o Espírito Santo se manifestava através daquelas convulsões, embora uma minoria crescente de jansenistas temesse que a coisa tivesse já ido longe de mais. O Rei agiu reprimindo o fenómeno e proibindo os ajuntamentos no local.

    E foi assim que, em janeiro de 1732, um decreto mandou encerrar aquele cemitério onde a fé no empobrecimento como via para a salvação tinha chegado longe demais. Era empobrecimento com redistribuição, o que talvez tenha assustado o poder.

    Passado uns dias alguém afixou no local uma tabuleta com a seguinte interpretação do acontecimento, tão válida para a França de 1732 como para o Portugal de 2012:

    ”EM NOME DO REI, PROÍBE-SE A DEUS DE REALIZAR MILAGRES NESTE LOCAL”.


    • Gostas disto.

Mensagens populares