Índios transformados numa "aristocracia étnica"


Índios transformados numa "aristocracia étnica"

Uma das glórias da ação missionária da Santa Igreja em nosso País foi, por certo, a conversão de populações indígenas e a correlata ação civilizadora, que estabeleceu laços de colaboração e de afeto destas populações nativas com os chamados colonizadores, logo aprofundados pelos próprios laços de sangue.

O célebre quadro da primeira Missa no Brasil, de Victor Meirelles, gravou na tela o contato inicial entre uns e outros, aos pés da Cruz e do Altar, a prenunciar os séculos de história vindoura de uma harmonia vivida na paz de Cristo.

É contra essa ação missionária e civilizadora que se desata também a ofensiva da revolução cultural. Com efeito, correntes ideológicas de esquerda, nas quais proliferam, sobretudo, clérigos inspirados na Teologia da Libertação, voltam-se contra tal ação evangelizadora e civilizadora da Igreja. Acusam gloriosos missionários, como o Beato Anchieta, e os povoadores portugueses de terem exercido uma ação perniciosa sobre os índios, na medida em que lhes anunciavam a religião cristã, com os padrões morais com ela condizentes e os valores culturais dela decorrentes.

A comunidade de bens da tribo, a poligamia, a ausência de autoridades, de noção de lucro, de capital, de salários, de patrões, de empregados, de instituições de qualquer espécie, constituiria um modelo antropológico perfeito. O que, no extremo, levaria a que os homens ditos civilizados se devessem “converter” às culturas indígenas, pagãs e primitivas.

Por isso, defendem tais correntes, as comunidades indígenas devem ser “preservadas” do contágio de “nossa civilização consumista e capitalista”. Condenam assim as populações silvícolas a um estilo de vida marcado tantas vezes por hábitos primitivos, por práticas cruéis, por crenças supersticiosas. E excluem-nas de antemão do acesso ao progresso material e, sobretudo, aos benefícios da verdade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

A neomissiologia católica – na qual exerce destacado papel o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), organismo da CNBB – e movimentos de esquerda afins têm proposto e levado a cabo uma política indigenista que se vai, aos poucos, impondo em nossos institutos jurídicos.

Política que, ao considerar como modelo o coletivismo da tribo, visa à transformação radical da estrutura agrária do País, com a eliminação da propriedade privada, considerada iníqua; e se traduz por demarcações de imensos territórios, nos quais os índios devem preservar seus usos, costumes, línguas, crenças e hábitos. Áreas absolutamente latifundiárias onde, pelo estado de incultura e de atraso a que os condenam tais correntes, a exploração é ineficiente ou simplesmente inexiste; e nas quais os índios gozam de privilégios legais negados aos demais brasileiros.

Assim, os índios vão sendo transformados em uma “aristocracia étnica” beneficiada por vantagens legais e sociais de vulto, enquanto os brancos são considerados adventícios que não podem ser igualados a eles. De onde decorrem ameaças às instituições e à própria coesão do espírito nacional.

Em sua investida, tais elementos de esquerda suscitam e estimulam o conflito entre índios e brancos, apresentando estes últimos como espoliadores, réus de genocídio, etc.

Segundo essa concepção hipertrofiada dos direitos indígenas, é lógico que se venha a reconhecer às comunidades silvícolas, vivendo em seus imensos territórios, uma autodeterminação, lacerando o conceito de pátria soberana, una e pujante. Quando se pensa que algumas dessas reservas se encontram em nossas fronteiras, ou próximas delas, o temor da insegurança e da instabilidade só tendem a aumentar.