GUERRA EM PORTUGAL AOS CALVINISTAS E LUTERANOS



 Proponho, antes de ir ao tema do título,  "Selfish Reasons to have More Kids: Why Being a Great Parent Is Less Work and More Fun Than You Think" (As razões egoístas para ter mais filhos: porque é que ser um bom pai ou mãe é menos trabalhoso e mais divertido do que um pensa), do economista Bryan Caplan. A obra sustenta que os pais exercem pouca influência sobre o futuro dos filhos e que, por isso, em vez de ficar martirizando-se com cuidados desnecessários, é melhor descontrair e "aproveitar a jornada". Caplan foi apelidado de "anti-Mãe-Tigre", em referência a Amy Chua, a autora de "Grito de Guerra da Mãe-Tigre", onde ela se gaba de proibir as filhas de ver TV, brincar com as amiguinhas, de não admitir notas inferiores a "A" e obrigá-las a ensaiar música ao menos seis horas por dia. Ao contrário de Chua, porém, Caplan apresenta evidências científicas em favor da sua tese. As suas afirmações estão baseadas em décadas de estudos com gémeos (que partilham 100% do material genético e muito do ambiente) e com crianças adoptadas (que partilham com os irmãos de criação muito do ambiente e nada do material genético). Aplicando estatística a estas bases de dados, que, no caso de países nórdicos, começaram a ser colectadas no final do século 19, é possível eleger uma característica qualquer e calcular o efeito da natureza (genes) e do ambiente (criação) sobre ela. Diferentemente do que os espíritos mais conciliadores poderiam esperar, a natureza vence com folga o ambiente na maioria das características que os pais desejam para os filhos. Trocando em miúdos, a criação quase não afecta a longevidade, a altura, o peso e nem a saúde bucal. Para não dizer que não precisamos fazer nada, pais podem ter pequeno efeito sobre o uso de tabaco, álcool e drogas. Saindo do campo da higiene, no longo prazo as atitudes paternas também não influenciam a inteligência, a felicidade nem o sucesso profissional dos filhos. Em relação aos valores, a situação é mais complicada. A criação é determinante para definir se o sujeito vai declarar-se baptista ou judeu, republicano ou democrata, mas pesa muito pouco quando se analisam as atitudes religiosas e políticas mais profundamente, como frequência aos cultos ou o grau de militância. Uma boa notícia para os pais que gostam de manter as suas filhas sob rédeas curtas: a criação tem um efeito moderado sobre o início da vida sexual, mas apenas para meninas, não para meninos. Uma categoria em que o ambiente dá um banho na natureza é a apreciação, isto é, a forma como os filhos adultos vão lembrar dos seus pais. Aqui, as atitudes paternas fazem toda a diferença. É com base nisto que Caplan afirma que o importante é "aproveitar a jornada". Estes achados, é claro, precisam ser interpretados com muitas cautelas. Para começar, dizem respeito ao longo prazo. É mais provável que o seu filho tire "A" em matemática se o obrigar a estudar do que se deixá-lo a brincar no computador. Mas, se olharmos para os efeitos duradouros, para além do ano lectivo e do exame vestibular, o peso da criação fica bem menor. Como diz Caplan, virou um lugar-comum comparar as crianças a barro, que os pais precisam moldar com a educação. Uma imagem mais feliz seria plástico. Ele dobra-se quando o pressionamos, mas logo volta à posição original. Outro ponto é que todas estas pesquisas foram feitas no Primeiro Mundo. As suas conclusões provavelmente podem ser estendidas para a classe média alta de Portugal ou do Brasil, mas não valem no Haiti ou no Zimbábue, onde a fome e as péssimas condições sanitárias impedem as crianças de atingir todo o seu potencial genético. É preciso ainda lembrar que os resultados reflectem valores médios, que nem sempre dão conta das situações específicas. Se a única oportunidade de ser da elite, implica um esforço por parte do seu filho para estudar medicina, e ter que entrar na Universidade Católica, mas ele é patologicamente preguiçoso, então acordá-lo cedo pode ser um caso em que os esforços paternos fazem a diferença. Aqui, o regime de Mãe-Tigre preconizado por Amy Hua não fica tão flagrantemente contraditório com o "carpe diem" de Caplan. A ideia de que as pessoas nascem mais ou menos prontas -segundo o autor, o que de melhor pode fazer por o seu filho é seleccionar um(a) bom(a) parceiro(a) para gerá-lo- não é a única tese polémica do livro. Caplan também apresenta dados para nos mostrar que o mundo (ao menos os EUA) hoje é muito mais seguro para as crianças e jovens do que o era nos idílicos anos 50. O objectivo final é nos convencer a ter mais filhos do que planeávamos originalmente. A ideia mestra é que, se não formos tão "mãe-tigre", eles dão menos trabalho do que se pensa e trazem grande satisfação. Esta satisfação só vem no longuíssimo prazo e na forma de netos. De acordo com o autor, infância e adolescência são fases passageiras e, quando tivermos mais de 60 anos vamos querer o maior número possível de netos para mimar e estragar.







Vide (tendes de procurar, pois perdi o link, ou mandai um email ao filósofo que vou aludir) um artigo na Folha de São Paulo do filósofo ateu judeu Hélio Schwartsman (na sua coluna) e o seu comentário nessa coluna sobre a religião protestante oficial praticada nos países nórdicos, trata do "caso" dos luteranos "de fachada" que apostam na laicidade ateia ou agnóstica mas com a preservação das suas tradições luteranas, dos sacramentos, da pompa, da liturgia.

http://mamaerecomenda.blogspot.pt/2010/06/recebi-um-comentario-de-um-estimadoa.html




PEDRO MARQUES LOPES

Traições

por PEDRO MARQUES LOPES

Os deputados aprovaram o Orçamento do Estado para 2013. Aprovaram uma lei sem o mínimo de racionalidade económica, sem a mais remota possibilidade de atingir os objectivos a que se propõe e com evidentes desconformidades constitucionais. Aprovaram a obra dum pequeno grupo de aprendizes de feiticeiro que pensam que o truque é só fazer desaparecer o coelho sem que seja preciso fazer nada para que ele volte a aparecer. O problema é que aqui não há coelhos, mas sim pessoas.
Os deputados são assim responsáveis pela aprovação dum documento que, a ser implementado, arrasará o tecido económico do País, destruirá centenas de milhares de postos de trabalho sem que construa um que seja, conduzirá à fuga em massa de jovens portugueses para o estrangeiro, agravará enormemente o nosso problema de desigualdade, provocará o desaparecimento da classe média e fará com que as instituições, entre outras os tribunais e repartições de finanças, deixem de funcionar regularmente.
Sim, nessa altura vai ser precisa uma refundação. Não uma refundação do acordo com a troika, não uma refundação das funções do Estado, não uma refundação constitucional, mas muito provavelmente uma refundação do próprio país. Não restarão senão escombros dum trabalho de quarenta anos de democracia. É bem verdade, o que se fez em Portugal desde o derrube da ditadura não foi brilhante, longe disso. Podia ter-se feito muito melhor, sem dúvida. Mas não ver os enormes avanços, esquecer as mudanças fundamentais, negar que nunca como nestas quase quatro décadas se fez tanto por tantos é cegueira. É crime. E aquilo a que estamos a assistir é a um plano para arrasar todo o trabalho desses anos.
Claro que seria preciso, seria importante, repensar as funções do Estado. Mas como será possível ter esse debate alcançar consensos, pensar soluções, numa altura em as pessoas vão estar nas ruas a gritar que têm fome, que não têm emprego, que os seus filhos emigraram? Sejamos honestos: a refundação é uma conversa oca. É uma conversa de quem já percebeu que a receita em que tanto acreditou falhou, que cada vez que se percebia que a coisa não estava a resultar achava que era melhor aumentar a dose. De quem está desesperado sem nada para nos dizer ou propor. Como será possível gente que todos os minutos prova não ser capaz de governar um país refundar o que quer que seja? Como querem que acreditemos que pessoas que não são capazes de explicar aos nossos credores [calvinistas, baptistas, luteranos, acrescento deste vosso blogger, não está no original] que um país destruído não pode gerar receitas para pagar dívidas sejam capazes de fundar o que quer que seja ?
Esta é a parte que diz respeito ao Governo. Mas voltemos aos deputados, aos homens e mulheres que aprovaram esse crime lesa-pátria chamado Orçamento para 2013. Alguns, contra todas as evidências, pensarão que este é um bom orçamento. São os únicos que, apesar de estarem a contribuir para todas as desgraças que se avizinham, merecem respeito. Não se refugiam hipocritamente, como alguns, por detrás do inqualificável argumento de que ter um orçamento é melhor do que não ter nenhum. Ou, outros, que dizem até lhes custa muito aprovar mas não há alternativa. Como se a morte certa fosse alternativa, como se a loucura fosse um caminho. Também não nos tentam enganar sempre a falar do passado, como se erros passados justificassem crimes presentes. Acreditam no que estão a fazer mas tentam proteger-se do que possa vir a acontecer. Enganam-se. Desta vez os portugueses não se esquecerão: a devastação social, económica e política será tão imensa que não irá existir português que não lembrará quem foram os representantes do povo que autorizaram o que vamos viver.
Os deputados a quem não podemos mesmo perdoar são os que sabem exactamente o que estão a fazer. Sabem que este orçamento vai destruir o País e sabem as consequências dos seus actos. Que dirão quando as suas convicções se materializarem, ou seja, quando o caos se instalar? Sorrirão e dirão para os seus amigos que já sabiam?
É verdade, o nosso sistema parlamentar, o nosso sistema eleitoral, não está baseado na liberdade de voto dos deputados. Mas há uma liberdade que todos temos: é a de dizer que não. E nunca foi tão importante dizer que não. Talvez arriscando a carreira, talvez correndo riscos pessoais. Mas um homem ou mulher que não está disposto a correr esses riscos, um homem ou mulher que não está disposto a sacrificar-se em função da sua consciência e do mandato que o povo lhe deu, não serve para político, não serve para representante do povo.
Estes traíram o seu mandato. Pior, traíram-se a si próprios. E logo quando mais precisávamos deles.

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