Tributo à Siracusa


ESPERANÇA PARA A SIRACUSA




A esperança, como diz Charles Péguy, espanta o próprio Deus. É a virtude do quotidiano e dos tempos impossíveis. Mesmo no mais profundo abismo, pode-se gritar.

Se a Realidade última e primeira não for apenas o ser humano perdido na sua finitude, os pesadelos podem transformar-se em antecipações da alegria. O futuro não tem que ser a eterna reprodução do mesmo:
"Alegrem-se o deserto e o descampado, rejubile e floresça a terra árida, cubra-se de flores como o narciso, exulte com brados de alegria. Ser-lhe-á dada a glória do Líbano, o esplender do Carmelo e do Sáron. Verão a glória do Senhor, o esplender do nosso Deus. Fortalecei as mãos fatigadas e robustecei os joelhos vacilantes. Dizei aos corações perturbados: Tende coragem, não temais. Aí está o vosso Deus, vem para fazer justiça e dar recompensa. Ele próprio vem salvar-vos. Então se abrirão os olhos dos cegos e os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um veado e a língua do mudo cantará de alegria. Voltarão os que o Senhor libertar, hão-de chegar a Sião com brados de alegria, com eterna felicidade a iluminar-lhes o rosto. Reinarão o prazer e o contentamento. Acabarão a dor e os gemidos" (Is. 35, 1-6; 10).
Este júbilo antecipado é a construção da linguagem da resistência animada por Alguém que não se rende nem à morte nem ao exílio. Mas Deus e o seu reino nunca serão como o imaginamos ou desejamos. A megalomania do desejo é sempre muito curta, mesmo quando parece desmedida.
Invoquemos uma passagem do Novo Testamento que tem paralelo em Lucas (que é também do Novo Testamento). É a interpretação da grande ruptura na História das religiões e do nascimento do "movimento de Jesus" que ainda hoje temos muita dificuldade em perceber na sua espantosa originalidade.
O texto precisa de ser situado. Jesus fez parte do grupo do severíssimo profeta João Baptista e recebeu das mãos deste o baptismo dos penitentes.
Os Evangelhos contam que depois de uma experiência mística, Jesus abandonou as convicções teológicas, os rituais e o estilo de vida de João Baptista. E constituiu um novo e escandaloso movimento para a religião oficial como para o próprio movimento baptista.
João, entretanto, foi preso. Chegavam à cadeia notícias intrigantes acerca do rumo que Jesus tinha dado à sua vida. Eis o texto:
"João Baptista ouviu falar, na prisão, das obras de Cristo e mandou-lhe dizer pelos discípulos: És Tu aquele que há-de vir, ou devemos esperar outro?
"Jesus respondeu-lhe: Ide contar a João o que vedes e ouvis: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a boa nova e anunciada aos pobres. E bem-aventurado aquele que não encontrar em mim motivo de escândalo.
"Quando os mensageiros partiram, Jesus começou a falar de João às multidões: Que fostes então ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Que fostes ver? Um homem vestido de roupas delicadas? Aqueles que usam roupas delicadas encontram-se nos palácios dos reis. Que fostes ver então? Um profeta? Sim - Eu vo-lo digo - e mais do que um profeta. É dele que está escrito: Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, para te preparar um caminho.
"Em verdade vos digo: entre os filhos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista. Mas o menor no reino dos Céus é maior do que ele" (Mt. 11, 2-11).
João - quer os ouvintes acreditem ou não - era o último sinal, o verdadeiro profeta Elias que estava para vir. Lamenta que aquela geração continue a brincar às religiões, como as crianças brincam, nas praças, aos enterros e aos casamentos: "Veio João Baptista, que não come nem bebe, e dizem dele: está possesso! Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: aí está um glutão e bebedor de vinho, amigo de cobradores de impostos e pecadores."
As religiões perdem-se em credos, normas, organizações, tabus, rituais, sacrifícios, argumentações e reformas que terminam sempre em mais do mesmo: regras de hipocrisia para os poderosos e uma carga maior para os que já vivem oprimidos.
Jesus comove-se porque verifica que "os sem vez e sem voz", como hoje se diz, entenderam a revelação de que Deus não faz parte desse jogo. Na actuação de Jesus passa um amor desconhecido que transfigura os que se julgam perdidos de Deus e da vida.
Encerrou aquele espantoso dia com um apelo: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e alcançareis descanso para o vosso espírito. O meu jugo é suave e o meu fardo é leve."
Andaremos esquecidos de que o Novo Testamento foi escrito por causa da nossa alegria?









































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