POW WOW DE FÉS
Por negação determinada, entende-se a negação de um determinado Deus, de uma certa imagem de Deus. Foi o que Saramago fez. Como podia ele ou alguém intelectualmente honesto aceitar um deus cruel e sanguinário?
No Caim, é essa imagem do deus violento e arbitrário que denuncia. Não é de facto a Bíblia judaica, no dizer do exegeta católico Norbert Lohfink, "um dos livros mais cheios de sangue da lite...
Quem, no meu entender, melhor escreveu sobre o ceticismo foi Eduardo Lourenço. Entre outras coisas, porque introduziuo pensar sobre o ateísmo até ao limite. "O que designamos por 'ateísmo', na sua literal acepção, significa, geralmente,mais do que o seu conteúdo dialecticamente negativo. Denota um relacionamento de grau nulo com o referente Deus.
É tão impensável ou inacessível na sua ordem como...
É tão impensável ou inacessível na sua ordem como a pura transcendência, que é conteúdo real ou imaginário de Deus. Ser ateu é só ser e estar 'sem Deus'. Perspectiva tão vertiginosa como a que a referência a Deus assinala, sob o modo de uma
'ausência' tão impensável como a de Deus e não menos 'abscôndita', só que mais dolorosa, que a da presença das presenças."
Segundo a tradição e na modernidade, "considerou-se ateu e deve assim ser considerado o sujeito para quem 'o nome' e, sob ele,a mesma ideia de Deus - não o conceito - não tem sentido algum." Mas não haveria mais motivo para designar como "ateu" quem "tivesse a pretensão de o objectivar, ou de conceber claramente, o que ele mesmo chama Deus"? Afinal, verdadeiramente ateus não seriam precisamente "os chamados teólogos, pelo menos os clássicos - anteriores a Karl Barth -, que sabiam tudo de Deus,ou que sabem tudo de Deus"?Exceptuando os místicos, é raríssimo o crente que se apercebe de que perante Deus só o silêncio é que diz, pois, no limite,Deus é nada do que dele o linguajar humano possa dizer. Ouvi uma vez a Jacques Lacan: "os teólogos não crêem em Deus, porque falam dele". E também Karl Barth, o maior teólogo protestante do século XX, disse que conhecia muito bem um certo ateu:justamente Karl Barth.Há dois modos de negação de Deus: a negação real e a negação determinada.
Reflexão sobre religiões proféticas, abraâmicas, monoteístas.Continuo a reflexão sobre as religiões mundiais. Agora, sobre as religiões proféticas, abraâmicas, monoteístas.Em primeiro lugar, o judaísmo. Quantos cristãos se lembram de que Jesus era judeu e de que os primeiros discípulos também?Não se pode esquecer o que há de comum entre judaísmo e cristianismo. Também o cristão acredita em um ...
Também o cristão acredita em um só Deus, o Deus criador e consumador do mundo e da história, em quem o homem pode, com razões, pôr a sua confiança. Também aceita a Bíblia Hebraica ("Antigo Testamento") e reza os Salmos. Também o cristão está vinculado por uma ética da justiça e da promoção da paz, na base do amor de Deus e do próximo. Como disse Thomas Mann, referindo-se aos Dez Mandamentos, eles são "manifestação fundamental erocha da decência humana", "o ABC da conduta humana".Há hoje 1300 milhões de muçulmanos, seguindo o Profeta Maomé, que está na base do islão. Como os judeus eos cristãos, os muçulmanos crêem num só Deus, o criador misericordioso, providente e juiz da História. Mas, enquanto para os judeus o centro é constituído por Israel como povo e terra de Deus e para os cristãos central é Jesus Cristo como Messias e Filho de Deus, esse centro para os muçulmanos é o Alcorão como palavra e livro de Deus. Ele é o livro vivo e sagrado para os muçulmanos em todo o mundo. Nele, encontram o seu modelo de vida, de que fazem parte os chamados cinco pilares do islão: acreditar que Alá é o único Deus e Maomé o seu profeta; rezar cinco vezes ao dia; auxiliar os pobres;jejuar durante o mês do Ramadão; ir em peregrinação a Meca uma vez na vida.E o modelo cristão? O fundamento da espiritualidade cristã não se encontra em dogmas por vezesincompreensíveis ou em sublimes mandamentos morais nem numa grande teoria ou num sistema eclesiástico. O modelo de vida cristão é pura e simplesmente Jesus de Nazaré como o Messias, o Cristo, o Ungido e Enviado de Deus. Na vida e na morte, o fundamento da autêntica espiritualidade cristã é Jesus Cristo, um desafio vivo para a nossa relação com os homens e com o próprio Deus, orientação e critério para mais de 2 mil milhões de seres humanos em todo o mundo. Cristão é aquele ou aquela que na sua vida e também na morte se esforça por orientar-se na prática por este Jesus Cristo e o seu Evangelho do Reino de Deus. A cruz só se entende à luz da sua vida e dos conflitos que criou. Mas os cristãos são transportados pela convicção de fé de que a sua morte não foi o fim: a ressurreição significa que Jesus está em Deus, que morreu não para o nada, mas para a Realidade mais real, isto é, foi recebido na vida eterna de Deus. Ele é, assim, o modelocristão de vida em pessoa.Logo a partir desta experiência existencial resulta que nenhuma religião se pode considerar como a única viade salvação. Quem poderia reclamar esse privilégio? Pelo contrário, percebe-se que as religiões, agora do ponto de vista teológico, em vez do confronto precisam de entrar no diálogo, corrigir-se e enriquecer-se mutuamente, colaborar.
O confucionismo não é tanto uma religião no sentido ocidental da palavra como sobretudo uma moral, baseada no equilíbrio cósmico e procurando a integração social. O Todo divino da Realidade é simbolizado pelo Céu imutável e os antepassados, que exprimem a permanência da Vida. Confúcio foi o primeiro na história da humanidade a formular a regra de ouro: "Não faças aos outros o que não queres que te...
Qualquer pessoa verdadeiramente religiosa já alguma vez disse para si mesma: se tivesse nascido noutro continente, deuma família de outra religião, muito provavelmente a minha pertença religiosa seria outra. Na Índia, seria hindu. Em Marrocosou na Indonésia, muçulmano. Em Israel, de mãe judaica, seguiria o judaísmo. Na China, seria confucianista ou taoísta. No Japão,
xintoísta. Na Europa, em Por...
"Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti". A sua moral assenta no equilíbrio cósmico, político e familiar, no quadro de um organicismo vital, hierárquico e polar: soberano-súbditos, homem-mulher, pais-filhos, irmãos mais velhos-irmãos mais novos.
Ocupa lugar central o culto dos antepassados, associados ao Céu.
O taoísmo, radicado em Lao-tsé, estrutura-se no quadro de uma concepção da Realidade como harmonia de contrários.É bem conhecido o pictograma do Tao, um círculo e esfera perfeitos que tudo contêm, estando as suas duas metades - uma clara, outra escura, Yang (céu, masculino) e Yin (terra, feminina) - em movimento constante e exprimindo o Todo num equilíbrio demomentos polares.Sem diálogo entre as religiões, não haverá paz entre as nações. Para dialogar, é preciso conhecer.
Qualquer pessoa verdadeiramente religiosa já alguma vez disse para si mesma: se tivesse nascido noutro continente, de uma família de outra religião, muito provavelmente a minha pertença religiosa seria outra. Na Índia, seria hindu. Em Marrocos ou na Indonésia, muçulmano. Em Israel, de mãe judaica, seguiria o judaísmo. Na China, seria confucianista ou taoísta. No Japão, xintoísta.Na Europa, em Por...